
O tarifaço de Donald Trump contra o Brasil virou um jogo de empurra entre o governo e a oposição. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, trocaram farpas sobre o assunto.
A supertaxação deve entrar em vigor só em agosto e o governo Lula deve esperar até lá para anunciar como vai reagir.
Trabalhar com o relógio. Essa é a decisão do governo para, até primeiro de agosto, definir respostas comerciais. A ordem é colocar a lei da reciprocidade em prática se a tarifa de 50% comece a valer. Até lá, um comitê de emergência com representantes dos setores que mais importam aos estados unidos vai buscar alternativas.
O governo descarta adotar a chamada taxação horizontal - sobre todos produtos, como definido por Trump. Os ministérios da Indústria e Comércio e da Fazenda vão determinar o percentual tarifário sobre algumas áreas, como propriedade intelectual, direitos autorais, streaming e patentes de medicamentos. O Brasil deve recorrer à organização mundial do comércio, mas só como sinalização política.
“Foi a primeira vez que o Trump anunciou uma tarifa sem racionalidade econômica. A tarifa é de fato totalmente política e ideológica. O que é algo de fato inusitado”, afirma o ex-ministro Henrique Meirelles.
Governo procura alternativas
O Brasil ainda vai usar a presidência do Mercosul para articular uma espécie de compensação a eventuais perdas com o tarifaço.
Conversas com México, Canadá, Japão, Coreia do Sul, Vietnã e Emirados Árabes Unidos estão bem adiantadas.
No caso da carne, Japão, Vietnã e Indonésia despontam como alternativas para compensar os mais de 700 milhões de dólares que o Brasil exporta por ano aos Estados Unidos.
Houve uma devolução simbólica da carta que anunciou os 50% de taxação. Segundo a diplomacia, pelas ofensas e "termos inaceitáveis" com os quais se referia ao Brasil.
A convocação da embaixadora do Brasil nos Estados Unidos não está descartada. Na avaliação de integrantes do governo, a carta de Trump desrespeita a soberania brasileira. Os presidentes da Câmara e do Senado defenderam, nesta quinta-feira (10), diálogo diplomático para superar a crise, mas o clima no planalto é de ceticismo
Governo x oposição
O ex-presidente Jair Bolsonaro, defendido por Trump na carta, esteve hoje com o governador de São Paulo em Brasília. Tarcísio de Freitas trocou farpas com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o assunto.
“O governador errou muito, porque ou bem uma pessoa é candidata a presidente ou é candidata a vassalo, e não há espaço no Brasil para vassalagem”, disse Haddad.
“O Brasil não está indo bem, a gente tem um problema fiscal aí relevante, então acho que cabe a ele falar menos e trabalhar mais”, afirmou Tarcísio.
Quando saiu pela primeira vez em defesa de Bolsonaro no começo da semana, Trump disse que o ex-presidente era um "bom negociador". Aliados afirmam que essa já é uma pista do que vem a seguir.
Bolsonaro deve anunciar que pediu a Trump para baixar as tarifas e deve ser atendido. Essa foi a estratégia articulada entre o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro que mantém diálogo com os republicanos americanos. A intenção é demonstrar força política de Jair Bolsonaro.