O Brasil escreve um capítulo inédito em sua história aeroespacial neste sábado (22) com a realização do primeiro lançamento comercial de um foguete a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão. A Operação Spaceward 2025, coordenada pela Força Aérea Brasileira (FAB) e pela Agência Espacial Brasileira (AEB), envia ao espaço o veículo HANBIT-Nano, da startup sul-coreana Innospace.
O evento consolida a entrada definitiva do país no mercado global de lançamentos espaciais e abre novas alternativas para geração de renda e investimentos no setor.
A operação deste sábado é o resultado de um edital de chamamento público lançado pela AEB em 2020, que selecionou a Innospace para operar a partir do centro brasileiro.
O lançamento ocorre dentro de uma janela operacional que foi estendida até o dia 28 de novembro, após análises meteorológicas e verificações técnicas. O processo simboliza a consolidação do modelo de parcerias público-privadas no setor espacial brasileiro.
Segurança é o eixo central
Por se tratar do voo inaugural do foguete HANBIT-Nano, a missão segue padrões ampliados de controle e mitigação de riscos nesta data. A segurança da operação foi estruturada em três eixos complementares: segurança orgânica (controle de acesso e inteligência), segurança de superfície (manuseio de combustíveis e preparação em solo) e segurança de voo (monitoramento em tempo real da trajetória).
Segundo o Capitão Engenheiro Eduardo Lopes Pinho, responsável pela Assessoria de Segurança Operacional, a estrutura oferecida pela FAB inclui inteligência e prevenção de acidentes. "Tudo é acompanhado em tempo real, de forma técnica e coordenada. A atividade espacial envolve risco, mas risco administrado, acompanhado e mantido dentro de limites aceitáveis", afirma o oficial.
Protocolos para anomalias em voo
Para o lançamento de hoje, a FAB e a Innospace estabeleceram regras rígidas para eventuais falhas. Caso o foguete apresente qualquer comportamento fora dos parâmetros planejados, será acionado o Sistema de Terminação de Voo (FTS).
O Coronel Engenheiro Rogério Moreira Cazo, Coordenador-Geral da Operação, explica que, se houver necessidade de interrupção, um comando remoto desativa a propulsão instantaneamente.
"A estrutura do veículo é propositalmente rompida para que o combustível remanescente seja consumido de forma controlada", detalha o Coronel Cazo. Sem sustentação, o foguete cairia em uma área marítima previamente delimitada, planejada para não oferecer riscos à população, às equipes ou às instalações.
Operação integrada e restrições
O lançamento mobiliza uma rede de cooperação interinstitucional. O Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) emitiu aviso aos aeronautas (NOTAM) para fechamento do espaço aéreo sobre a área. Simultaneamente, a Marinha do Brasil emite avisos para restringir a navegação na área de risco no mar, visando proteger a vida humana contra a queda de estágios ou fragmentos.
Outros órgãos atuam em sinergia neste sábado: a Anatel monitora o espectro eletromagnético para evitar interferências e detectar drones, o Ibama acompanha os aspectos ambientais e a Defesa Civil atua em cenários de contingência. A agência espacial sul-coreana (KASA) também acompanha os aspectos técnicos do veículo.
Tecnologia e carga útil
O protagonista da missão, o HANBIT-Nano, é um foguete de dois estágios com propulsão híbrida (sólido e líquido), medindo 21,9 metros de comprimento e pesando quase 20 toneladas. O veículo tem capacidade para transportar até 90 quilos de carga útil e obteve autorização da AEB após comprovar o cumprimento de requisitos de minimização de riscos.
Nesta missão inaugural, o foguete leva a bordo oito cargas registradas: cinco pequenos satélites e três experimentos tecnológicos. Os equipamentos foram desenvolvidos por empresas e instituições do Brasil, da Coreia do Sul e da Índia, voltados para coleta de dados climáticos, desenvolvimento tecnológico e iniciativas educacionais.
