
O Brasil aumenta a produção de energia renovável nos últimos anos, mas enfrenta um paradoxo: parte significativa da geração é desperdiçada. Sem tecnologia em escala para armazenar o excedente, o Operador Nacional do Sistema (ONS) é obrigado a ordenar cortes para evitar sobrecarga na rede elétrica.
Segundo dados do setor, os cortes representavam 4% da geração em 2023, subiram para 10% em 2024 e já chegam a 20% em 2025. A situação ocorre porque turbinas eólicas, placas solares e hidrelétricas operam em alta capacidade durante o dia, quando o consumo é menor. À noite, no horário de maior demanda, a energia extra produzida não pode ser utilizada.
Prejuízos e insegurança no setor
O problema atinge diretamente os produtores. Rodrigo Sauaia, presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), afirma que as empresas acumulam prejuízos financeiros que comprometem o pagamento de empréstimos, a manutenção de equipes e a atração de novos investimentos em renováveis.
Do outro lado, o consumidor também é afetado. Apesar do desperdício, as tarifas seguem em alta. O setor calcula perdas de R$ 5 bilhões até agora. Um grupo de trabalho do Ministério de Minas e Energia discute como compensar as empresas. Entre as opções está o repasse do custo para a conta de luz ou o uso de recursos do Tesouro Nacional.
A advogada Rafaela Rocha, especialista no setor elétrico, explica que o ressarcimento pode ser incluído nos encargos já embutidos na conta de luz, caso o governo opte por indenizar os geradores.
Soluções em debate
Especialistas apontam caminhos para reduzir o desperdício. O primeiro é ampliar as linhas de transmissão, já que a maior parte da produção está concentrada no Nordeste, enquanto o consumo é mais intenso no Sudeste.
Outra alternativa seria investir em baterias para armazenar energia solar e eólica e utilizá-la à noite. Também há a possibilidade de adotar o sistema de bombeamento de água para reservatórios de hidrelétricas, tecnologia usada em outros países. No Brasil, porém, essas soluções esbarram em altos custos e entraves burocráticos.
Enquanto não há avanços, o país que busca protagonismo na transição energética segue desperdiçando energia limpa e acumulando prejuízos.